Era uma vez uma menina que ao nascer encontrou dois irmãos, um rapazinho normal e um outro, diferente mas muito especial.
É assim que começam os contos e as histórias de encantar, mas esta é real. É a minha história de amor por um irmão deficiente.
É o mais velho de todos, tem paralisia cerebral devido ao parto ter sido muito doloroso. Fisicamente é normal como qualquer homem, mas a parte cognitiva tem atraso, porta-se e age como uma criança de 2, 3 anos.
Há muito tempo que os papeis foram invertidos, em vez de ser ele como irmão mais velho a proteger-me, a ser o meu porto de abrigo, sou eu a protegê-lo e a cuidar dele.
Por ele, a minha infância foi diferente das meninas que conhecia e o meu instinto maternal despertou mais cedo do que era suposto
Para ele eu sou a Nina, a irmã que o mima, cuida, dá brinquedos novos.
Quando chego a casa, o sol nasceu para ele, os seus problemas ficam resolvidos.
É a pessoa que mais ordens (tarefas) me dá para fazer:
- Nina o banho, a barba, a cama precisa ser feita;
- Nina o rádio não toca, precisa de pilhas.
Então nesta quadra de Natal, as tarefas são a dobrar:
- Nina faz o presépio;
- Nina faz o pinheiro;
- Nina falta os presentes;
- Nina os doces?
- Nina olha os livros de histórias, tens de comprar.
- Nina eu portei bem, quando chega o Menino Jesus?
Isto tudo em linguagem infantil, linguagem essa que só quem lida com ele entende.
Ele adora brincar com carrinhos, ouvir música e ver livros de histórias e revistas.
Por ele nada de mal me acontecia, à sua maneira é o meu protector e defensor, para ele eu sou tudo na sua vida.
Cada vez mais me convenço que Deus põe à prova as pessoas fortes.
"Quis Deus dar-me o condão de ser sensível
Como o diamante à luz que o alumia,
Dar-me uma alma fantástica, impossível:
- Um bailado de cor e fantasia!"
Florbela Espanca
Amar um irmão com paralisia cerebral, não é difícil quando ele é um dos maiores amores da nossa vida.
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